sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Beijo, beijo, beijo. Te amo, te amo, te amo.


Estava cansada, suja, descabelada depois de um dia puxado de trabalho. Meus pés latejavam de cima do salto e eu só pensava em chegar em casa e me deitar depois de um bom banho. Já estava tudo programado. Seria na seqüência: abrir a porta, largar o salto e a bolsa no quarto, me besuntar de hidratante depois da ducha e dormir o sono da primeira infância. Mas parei.

A seqüência foi quebrada ao acender a luz do quarto. O livro aberto sobre a cama trazia a página marcada com o pequeno sorriso. Aquele sorriso que todos os dias me alegrava, que tanto me confortou e me fez ser o que sou. Desejei vê-lo rindo só mais uma vez. E fechei os olhos para segurar a lágrima e de repente o quarto se encheu com o som da sua risada. Risada fácil, que vinha até em situações em que merecia não aparecer.

Naquela foto, no marcador, ele me pareceu tão terno e vivo como todos os dias em que adentrava a porta do quarto para me beijar. O beijo mais doce que já pude receber de um homem. E ele o era não só no gênero, mas em toda a grandeza e simplicidade da palavra. Desejei só mais uma vez, me irritar quando puxava meu pé e mandava ‘pular embaixo’.

Paralisada, de pé, em frente a cama, o vi envelhecer enquanto eu crescia em lembranças de tempos que vão longe, mas que se faziam tão perto, tão real, que quase pude tocá-lo quando novamente ele me sorriu. E era o sorriso mais doce que já pude ver em um homem. E ele o era não só na palavra, mas em todos os gestos, exemplos, carinhos e lágrimas. Desejei só mais uma vez erguê-lo em meus braços e fazer com que sentisse que meu amor era grande e forte o suficiente para agüentar o peso da nossa separação.

As imagens se multiplicavam e o cheiro do seu olhar tomava conta não só do cômodo em que nos encontrávamos, mas de mim. Pensei em erguer a mão e pedir a bênção, quando ele inclinou a cabeça para encostar na minha. E senti seu corpo cansado me proteger e repetir nosso refrão: “- beijo, beijo, beijo. - te amo, te amo, te amo”. E era a declaração mais sincera que já pude ouvir de um homem. E ele o era não só enquanto humano, mas em toda sua alma. E desejei só mais uma vez poder abraçá-lo, ver as rugas marcarem seu rosto e ter a certeza que teria em quem me segurar se o mundo se abrisse debaixo dos meus pés.

Seu amor me envolvia como a uma criança, embalava e ensinava a ser do tamanho que o sonho pede e a realidade impõe. Sempre me deixou tomar as minhas decisões, mesmo ouvindo todas as hipóteses. Não precisava ter medo, seu abraço estaria ali. Desejei só mais uma vez chorar no seu colo, enquanto mexendo no meu cabelo, contaria histórias engraçadas do seu tempo e experiências que o trouxeram até ali. E era o melhor refúgio que já pude encontrar em um homem. E ele o era em toda sua fantástica sabedoria de ser de Deus.

Não sei quanto tempo passou, nem olhei o relógio naquela hora. Sentada na cama, só tinha olhos para aquela pequena imagem, agora já em minhas mãos (e em todos os sentidos), que me encantava com seu sorriso mágico. “E amou-os até o fim”, era o trecho marcado naquela página. E eu desejei amá-lo só mais uma vez. Porque ele não era só um homem, mas a manifestação do amor, o mestre, o amigo, o meu pai. E pai em toda sublimação e abrangência do ser.

Beijo, beijo, beijo. Te amo, te amo, te amo.

5 comentários:

Lu disse...

Todas as vezes que eu te vejo falando dele - ou escrevendo sobre ele - meu olho enche de lágrima. E me dá uma vontade enorme de seguir o seu conselho e amar o meu mais que tudo. Porque infelizmente um dia ele pode ir embora.
Obrigada, amiga.
Por me fazer ver coisas que as vezes estão tão na nossa cara que acabamos deixando passar despercebidas.

O texto está lindo.
Muito a sua cara.

Bjo.
Boa semana.

Anônimo disse...

Conheci ele, menos do que eu queria, mas foi o suficiente pra perceber que é uma pessoa fantástica. O texto é lindo, como todos os outros que vc escreveu.
Morro de orgulho!
bjos

Unknown disse...

Eu posso dizer que vc o descreveu perfeitamente, ao me deliciar com o belo texto me peguei lembrando dos momentos q tivemos juntos e as lágrimas rolaram normalmente. Sei que no fundo os beijos, beijos, beijos, te amo, te amo, te amo foram intensamente vividos por vcs. Lindo texto, Parabéns!!! Amo d+

Unknown disse...

O mais lindo disso tudo é que vc fala de alguém, que se foi em hora inesperada, porém já determinada pelo arquiteto do universo e fala apenas de uma separação transitória e a presença do seu Painho está tão viva e ele está tão vivo e tão saborosamente feliz com seus sucessos , que eu ouso a dizer ele n apenas te amou até o fim como sempre te amará por toda eternidade! bj linda Sara.

Unknown disse...

Oi Saroca, tambem me emocionei viu! Quando pensar nele, peque seja com alegria por ter tido a sorte de contar com momentos tão gostosos ao seu lado para lembrar!
Como diz aquela batida mas sábia frase: "...continua vivo enquanto estiver em nosso coração".
BJos

Ellen Rodrigues