terça-feira, 21 de abril de 2009

Estranha mudança


“Mudaram as estações nada mudou
mas eu sei que alguma coisa aconteceu... “


A cor não era a mesma, o tom vinho velho tinha sido substituído por um azul marinho reluzente, e eu demorei alguns segundo para reconhecer. Mas lá dentro, o sorriso era o mesmo. Os olhinhos apertados brilhavam e foi o meu coração que se apertou quando o olhei. Há muito não via aqueles olhinhos nos meus. Não havia nada de novo, a não ser pela nova conquista, que, claro, fiquei toda orgulhosa. Em outros tempos, seria uma cena corriqueira, mais uma entre as milhões de vezes que iria me buscar. Mas não era isso, não dessa vez.


“...tá tudo assim
Tão diferente...”

E não era só a cor do carro, o papo que não fluía, o não saber onde por as mãos e os olhos, deixar a colher cair ou porque ele aprendeu a tomar açaí nesses últimos meses. Não sei se ainda estava ali. Eu jurava que não estava. Mas ali, na mesa, por vezes sentia-o de novo, como se quisesse arrebentar e se fazer notar. Outras, ele mesmo se sufocava em dúvidas: se por carência afetiva ou por saudades de um tempo bom. Afinal, vivi tanta coisa ali, que a entrada naquela casa parecia remexer a poeira e com ela fazer levantar todos os momentos, as lembranças e saudades que teimavam em me dar um ‘oi’, como cumprimento de boas-vindas. E foram tantas as cenas, imagens e histórias me rodeando, como um filminho em diversas telas, que fiquei zonza e não pude, nem soube disfarçar.

“Se lembra quando a gente
Chegou um dia acreditar que tudo era pra sempre
Sem saber, que o pra sempre
sempre acaba...”

É estranho perceber que as coisas mudam, apesar de tudo. E que outras não, apesar de tudo. É estranho que paredes, móveis e até aquele cachorro que veio saudoso me receber pudessem guardar tantas palavras, gestos, gostos, sussurros. Estranho não conseguir definir o que senti, o que estou sentindo agora. Mas to sentindo, mudou. Mesmo que a mudança seja o sentir. Tomei sorvete como antes. E no momento em que fiquei sozinha, parecia dividir a cena daquela sala parada, com outros personagens no papel de ‘nós’, em outras épocas, estrelando “o macarrão”, “sessões de vídeos” e o encantador “escalda pés”. Estranho que só chegaram os bons.
"Mais nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguem, só penso em você
E aí então, estamos bem"

O mais estranho que foi tudo diferente. Claro, porque eu estou diferente, ele observou. E eu continuo a mesma menina que pouco sabe da vida e de amor então... Que sente saudades e tenta sentir o mundo para melhor entende-lo. Porque o amor, já desistiu de entender. Mas o sente. Estranho sair dali e saber que todas as recordações estarão lá, guardadas, a espera de uma nova visita. Talvez, algum dia eu volte para um café rápido. Estranho ver o caminho de volta para casa, com a certeza que a saudade e as lembranças sempre me acompanharão, mesmo quando não tiver mais amor. Estranho não te-lo beijado quando o quis.

“Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está
Nem desistir nem tentar agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa”

5 comentários:

Michelle disse...

Lindo demais!! Sensível até a última gota! não vejo a hora de ler o livro!
beijos

Panela disse...

Apesar de não conhecer o contexto, as palavras continuam redondas. O ponto, a vírgula, as reticências, todos em seu devido lugar.

Lu disse...

Ai Saritxa... Que dor que me deu agora.
:-(

Mas lindo como sempre.
Que emociona.

Unknown disse...

Viver a vida é como escrever um livro. Uma página de cada vez, o que diferencia é que em nossa vida, todos os dias encontraremos uma folha em branco à ser preenchida. A questão é como escreveremos eese novo texto. Daremos vida à que personagens? essas respostas só vc as têm. Uma sugestão: Escreva na página em branco de amanhã seus novos desafios, de maneira a nos contagiar, com a alegria própria da menina que está dentro de ti. Assim eu acreditarei que o amanhã será muito melhor, mesmo que as vezes nos peguemo-nos relendo velhas histórias. BJ

Carolina Hévelin disse...

Sarinha,

Lindo demais...estou muito emocionada, pois consigo me ver em cada palavra sua.
Parabéns por conseguir transmitir a sensibilidade que só os verdadeiros sentimentos nos proporciona.
Beijos