
Sentou-se e cruzou as pernas.
O salto fino dava idéia de seu estado: um pé no chão, outro pronto para voar, para quaisquer das direções que o bico apontasse. Era uma questão de movimento. Ou de chamar a atenção. A verdade é que tentava disfarçar intenções, enquanto o café levantava com o vapor o pensamento. Quente e forte, como o líquido preto. Aquela altura, era mais fácil silenciar o desejo em pequenos goles. Como quem espanta o sono para adentrar a madrugada.
Buscava olhares. Insinuava discrição. Gritava por mais.
Trocou de perna e o movimento logo foi percebido. Mas, somente o garçom veio oferecer-lhe outra xícara. A oferta era pouco, mas aceitou. Aquela altura, era difícil engolir todas as vozes, vontades e inquietações contidas no copo, no corpo. O coração, cansado de enganar-se, procurava novas promessas, ditas sussurradas, devagar, com aquela sinceridade que aponta o caminho. A porta para sair. Ou entrar.
Mas o sabor daquele canto de sala parecia acomodar, em pequenas almofadas, os ideais de uma vida.
E ficou ali, sentada.
Perpassando pernas, ajustando a saia, adequando sentimentos.
Estacionada.
A pensar com seus sapatos. Ganhando tempo. Perdendo sonhos. Enquanto o café esfriava sem lhe trazer a boca o calor do amargo. Do doce. Do gosto.
4 comentários:
Texto gostoso da bexiga... Massa, muito massa.
Oi Sara, obg pela visitinha... claro q pode me linkar sim hehe... vc já ta linkadinha! abção! =)
Impressionante tua escrita... forte, ácida e ao mesmo tempo doce.. cheia de sol raiando.
minha escritora favorita!
beijos
Lindooooooooo!
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