terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Já, já amanhece


Afastou a cadeira. Pegou a bolsa e deixou sobre a mesa a xícara, ainda cheia da bebida fria, e algumas moedas para o bolso do pequeno homem. Seguiu em direção a porta. Desviou daquela garrafa no chão e de olhares vindos do balcão. Caminhou como quem busca ar para os pulmões, cheios de fumaça de outros dias. Decidida. Preocupada em não perder a hora outra vez. Lá fora a rua estava clara e tumultuada. E ela era só mais uma na multidão. Passos lentos, atentos a movimentação. Mais leve. Mais si. Não se sentiu diferente do mendigo, do menino que cheirava cola, ou daquela que vendia prazer por alguns trocados. Talvez o que lhes faltassem, era o que ela tinha de sobra. Mas resolveu não jogar os restos, assim, na poeira. Não entenderiam. Andou altiva. O bar, a xícara, a porta aberta ficaram para trás. Só algum gosto ainda amargava na boca. Respondeu o boa-noite, sem virar o rosto, enquanto o vento quente parecia empurrar, docemente e sem pressa, os ponteiros daquela vida. Era ainda 23h04. Tinha muito pra ver, andar, respirar. Afinal, estava viva. E a madrugada sempre puxa o cobertor para o sol.

Um novo dia é tudo que basta!
Que sorte... já, já amanhece!

Um comentário:

Marcelo Tavares disse...

Mais um texto foda. Mais um filme que passa na minha cabeça.