O relógio marca 7h40. Atrasada, corre, sobe, senta. Da janela vê passar carros, buracos, edifícios, no percurso de todos os dias. Passam pessoas apressadas, que lutam contra o tempo, enquanto este passa e leva longe a época em que Natal dormia segura, onde a “guerra urbana” era coisa dos morros de um outro Rio. Tempos em que se podia caminhar, comprar pão ou andar de ônibus sem grandes preocupações. Tempos em que crianças brincavam de polícia e bandido, sem fazer confusão entre quem é o ‘mocinho’ e o ‘vilão’.
-“Passa, Passa”- não era pensamento alto.
Por trás do trêsoitão, o grito impaciente mostra a cara do terror, que também cedo madruga. Afinal, também vai longe a época em que havia locais e horários para acontecer.
– “Tá surda? Não ouviu, não? Passa!”.
E leva a bolsa, o celular, o resultado de horas de trabalho e a dignidade de uma vida, reduzida ao tamanho da maldade. Em meio ao choro e gritos de desespero, vê-se o corpo estendido. O ladrão de vidas correndo.
Vê-se ainda o medo estampado nas caras, nas primeiras páginas, nas grades e cercas elétricas. O que não se pode ver é a cara do bandido, aquele que levou a bolsa e a dignidade, destes está resguardado o direito de imagem.
Mas e o direito dela continuar mostrando o sorriso, não cuidaram?
Porque esperar? 155 assaltos à transportes coletivos, em 8 meses, não eram suficientes? Não bastava só o atraso dos ônibus? Aquele corpo sem vida poderia ser o de qualquer um ali, até mesmo o seu.
Engessados na burocracia e leis de inúmeras interpretações, os responsáveis (?) pela segurança pública se movem ao passo de ‘latas velhas’. É preciso mais que competência para enxergar pessoas além de números e ações, além de promoção. Antes que passe, também, o tempo em que a população tinha em quem confiar.
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