
Tem certas coisas que nos devolve a nós. Estar em casa é uma. Não há nada novo, os móveis estão dispostos na mesma ordem que ontem. A cadeira, com o encosto quebrado há semanas. A parede descascada lembra que a mão de tinta não veio com o ano que passou, mas ainda assim a cor é alegre e aconchegante. É interessante me achar em temperos, travesseiros, pelúcias e até no vento que passa rápido pela varanda, mas sempre vem nos visitar.
Algumas pessoas também têm este poder.
Com ela é sempre assim.
O olhar profundo e a palavra firme fazem brotar a doçura. E se o sorriso é quem se abre primeiro, a paz reina sem pressa de ir embora. As mãos finas e delicadas, sem esconder as rugas e a dureza dos dias, são o melhor afago para arrancar o riso ou secar a lágrima. O cheiro entranhado nelas é bom, mesmo quando cortam cebolas. O colo. Ah! Este merecia um parágrafo único, por ímpar que é. Mas é seu amor generoso que mais me encanta e constrói. Nunca soube ao certo quem é o seu preferido. E como é bom saber-se igual!
Ela não é a minha melhor amiga, daquelas a quem se contam os segredos, desassossegos e desejos mais descabidos. Contudo, sem que eu abra a boca, ela já os sabe só em me olhar. É a minha conselheira favorita, que tem a palavra certa na hora certa. Ela às vezes não entende, mas sempre me mostra e faz buscar sabedoria, só Deus sabe de onde (ela deve saber também). Foi dela que eu senti saudade no primeiro dia na escola e no primeiro carnaval nas ladeiras de Olinda. É dela que vem a coragem para acreditar que tudo vai melhorar, cedo ou tarde. E que nem por isso devemos nos conformar e só esperar. É quem me lembra que preciso rezar mais, economizar mais, aprender mais e continuar lutando.
Embora a profissão e a paixão não a deixem largar a escola, mesmo aposentada, foi com outra que aprendi o bê-a-bá. Mas foi em outros bancos e salas, que ela me ensinou a colorir o mundo, somar alegrias, partilhar o pouco, entender que o outro é igual a mim, apesar de tudo, e que cabe a mim, me melhorar pra vê-lo mais bonito. E ter força para levantar após uma, duas, três rasteiras ou de uma noite inteirinha de chuva no travesseiro, se confiar nEle.
Apesar do nome de santa, ela não o é, graças a Deus. Mas traz em si o poder de dar a vida e na sua finita humanidade, me incita a buscar o céu. Foi ela quem me disse que eu tenho um anjo da guarda, que sempre vela por mim. Só não falou que este anjo também faz o prato favorito, cuida do machucado e até hoje sente prazer em gastar as suadas economias comigo, e não com si. Isso por ser uma das rosas que a santa xará,vigilante na cabeceira da cama, carrega no colo.
E eu a amo porque ela me traz de volta. Embala o sono e faz perceber a beleza do simples. Porque ela é assim. Com ela é sempre assim! O dia fica mais ameno, não importa o tempo lá fora. E eu sempre enxergo melhor a vida, os outros e a mim nos seus olhos. Isso porque venho dela e muito do que sou, é ela.
2 comentários:
LINDO!!!!!!
Tô sem palavras, amiga! Amor sem limites... =)
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