terça-feira, 29 de setembro de 2009

Sem saber como seria, se fosse


Era quase meio-dia. O sol forte consumia não só líquidos e sais, mas o resto de idéias que povoavam-lhe a cabeça. Por um momento, pensou em ligar. Ouvir sua voz, mesmo que breve, poderia reverter o calor em maresia. Mas o que dizer? Já não havia desculpas para disfarçar o desejo. Escancarar a fome, a boca sedenta pela tua, não parecia boa idéia ou qualquer coisa que aquela temperatura infernal deixasse escapar. Consultou novamente o relógio, se foram 36 segundos desde a última vez. Mas o intervalo era espaçado demais, para caber ali toda a angústia, dúvida, vontades. Abriu a carteira e logo depois um sorriso. Sem saber como seria, se fosse, catou moedas e se fechou em um coco verde, enquanto olhando para o nada, via a vida e os carros passar. O orgulho é uma daquelas armadilhas do “Se”.

2 comentários:

A Princesa do Castelo disse...

Lindo texto!!!

Patrycia disse...

Ai essa sensação... Tenho sentido ela de uns dias pra cá, exatamente assim: sem tirar, nem pôr.