
Esses dias, recebi o desafio de uma criança de seis anos de escrever pro bom velhinho, achei graça e aceitei. Só que, fazendo uma retrospectiva, se esta fosse uma cartinha para o Papai Noel, não sei se teria o brinde ao final. É dia 20 de dezembro. Faltam dez dias pra 2010 acabar e a sensação é que foi tempo perdido. Não consigo lembrar, apesar do esforço, de coisas a comemorar. A não ser por bênçãos como saúde, família, amigos...
Mas falo de conquistas pessoais. O ano termina sem que eu tenha vivido um grande amor ou sequer encontrado um novo. Ao contrário, o namoro de uma vida [que eu queria que fosse pra vida] acabou no meio do ano e desde então eu não encontrei outro. Pior, ainda dói a saudade do antigo, que a esta hora deve estar em algum ponto da costa brasileira, sem lembrar de mim ou fazer idéia da falta que anda me fazendo.
Não, este também não foi o ano que eu consegui a estabilidade financeira e os bens duráveis, como o apartamento ou o primeiro carro. Apesar de ter sido o ano que fiz 30 anos [e isso soa velho], eu ainda moro de favor na casa da irmã e nos fins de semana me mudo pra minha cama, em Goianinha. Eu sei que muitos não tem nem isso, mas seria bom ter um imóvel pra chamar de meu.
Pensei mesmo em me livrar da conturbada vida de usuário do transporte coletivo, mas o máximo que consegui juntar pra isso não dá para uma boa entrada e parcelas mais acessíveis. Tenho medo de assumir prestações a pagar com o meu “invejável” salário de jornalista [R$ 900,00] e ser mandada embora em breve, por que há três meses estou fora da redação, por conta de um entorce no tornozelo direito.
Às vezes, me pergunto se não seria melhor mudar de profissão pra ter uma renda melhor e quem sabe assim, facilitar a aquisição dessas coisas... mas não consigo imaginar o que poderia fazer. Nessas horas sinto ainda mais falta do meu pai. É impossível não pensar que tudo seria melhor se ele estivesse aqui - mesmo que eu encerrasse o ano com os mesmos lamentos.
Adiei os cursos, os concursos, tudo sem maiores explicações. Por alguma preguiça gigante ou crença na minha incapacidade. Não aprendi outro idioma e nem comecei a pós-graduação. Não ajustei a planilha e a agenda para que coubessem. Não investi em mim.
Não estive o tempo possível com a minha família e isso não faz bem. Passei muito tempo em redes sociais sem me relacionar, de fato, com uma gente que nem me conhece. O número de pessoas que realmente me valem e consegui ver, encontrar, conviver nesses 12 meses foi tão pequeno. Queria ter ficado mais com eles, amigos queridos, que me são tão caros e alguns vi só uma ou duas vezes.
Não fui para shows, cinema, teatro, praia, igreja o quanto queria. Não comprei os livros, sapatos, DVDs, perfumes e o escapulário de ouro branco que desejei. Não me alistei em nenhum trabalho voluntário e nem paguei o dízimo. Não fui à academia e nem conheci um lugar diferente, naquela que seria a viagem pra comentar pro resto da vida.
E depois de escrever quase uma lauda de reclama.. ops, reflexões, percebo que isso aconteceu por falta de fé, de norte, de ânimo, de incentivo, ou seja lá qual o nome queira dar. Embora rezando pouco e de quando em vez, acho que não tinha muito em que acreditar e fui deixando passar os 365 dias sem muitos propósitos. Penso que desisti de mim nesse período. Não sei dizer se isso é esperar acontecer ou não saber fazer a hora, como naquela música que, inevitavelmente, vai tocar nestes últimos dias antes de 2011 chegar. Talvez os dois.
Este foi um ano que vivi à passeio e, antes mesmo dele acabar, já sinto saudade de voltar e me encontrar.
Por isso, se esta fosse uma cartinha pro Papai Noel, gostaria apenas da pueril fé de saber pedir e acreditar.
3 comentários:
A retrospectiva vc já fez, falta agora voltar ao ponto onde largou as rédeas da sua propria vida e voltar a trilhar o caminho que vc sonhar! Podemo tudo! Vc sabe disso =)
Sincero e honesto. E como escreve bem, esta menina! A gente começa e nem sente terminar...
Pois eu agradeço e muito por ter tido a oportunidade de estar na TN e conhecer pessoas como você, este ano. Conte comigo pro próximo! =) Abração!
Sara, que belo texto!
O mais importante de tudo isso é que Deus não desistiu de você. Nem você, sei disso perfeitamente, desistiu Dele, nem de continuar buscando uma estrada sem buracos para transitar. Enquanto o carro e o imóvel não chegam, vá de pensamento aos corações das pessoas que te querem bem.
João Ricardo Correia
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