
Por que a gente já é amiga há uns quase 30 anos, tempo que Deus programou que eu a encontraria para dividir a jornada, mesmo que o encontro tenha ocorrido somente há uns oito, nove anos. “Tempo de Deus é coisa que a gente não cronometra. É diferente do nosso”, explicou meu pai, certa vez.
Foi em meio ao terror do trote, no fundão da sala de aula, que nós, calouras de jornalismo, fizemos o primeiro contato. Ou o primeiro socorro, eu diria. Já que eu - do alto do meu salto e manchada de tinta de cima a baixo – havia esquecido o meu celular e tive que pedir o dela emprestado para avisar ao namorado de então, para vir me buscar mais cedo. Desde então ficamos próximas.
Não faço idéia de quantas lágrimas, ligações, abraços, sorrisos (largos), puxões de orelha, guarda-roupa, quartos, TPMs, críticas sobre o lead ou a postura, viagens, pilequinhos, festinhas, preocupações, deprês, fotos e resenhas já compartilhamos nesse meio tempo. Sim, ela também estava lá quando meu pai partiu. E segurou minha mão e coração nessa e numa ruma de outras vezes.
Se a profissão é o que nos aproximou, é fora das redações que nos identificamos. E a gente é bem diferente, apesar de muitos confundir o nome, como os professores na época da faculdade, ou a moça da loja de sapatos ao achar que as bolsas vão para o mesmo endereço. "– Não, a gente não é irmã!" (risos). E até é, mas em outra versão. Somos amigas-irmãs, por escolha nossa e providência divina.
Já superamos a fase dos melindres no trato, do “o que será que vai pensar se”. Falamos o que achamos sempre, mas sem perder o respeito. Nisso, até as brigas, discordâncias, grosserias e ausências perdem espaço para o perdão. Ela me fez mais racional. E eu fiquei feliz no dia que descobri, por trás daquela firmeza, um coração. Talvez seja essa troca que nos faz parecidas na aparência e faça com que nossas famílias nutram um amor pela outra, muito mais de ouvido. Por que ela sempre está em algum exemplo ou conversa, mesmo quando não está por perto.
É pra ela que eu derramo a alma, solto segredos e peço reza, muita reza. Sim, porque eu não devo ter jeito e, vira e mexe, meto os pés pelas mãos. Só Deus nessas horas. Chegamos a conclusão que nossos conselhos – nunca seguidos por quem o dá – servem somente e muito bem para cuidar da outra, mesmo que ela também não siga. Besteira, a gente quer é ver a outra feliz!
Minha mãe me ensinou que amigos são como anjos. Ela com certeza deve ser um, meio atrapalhado e tagarela é certo, mas com asas abertas para me envolver. E faz parte do time (é, porque a vida é generosa comigo e além dos anjos lá de casa, há outros que assim posso chamar) que me ensina que é possível voar vôos maiores. E eu me atiro e comemoro ou me estatelo junto, ali.
E depois de tantos anos de convivência, hoje ela me deu uma caixinha. A tampa define o que somos: “Amigas irmãs”, que ”choram, riem, defendem, aprontam, perdoam, telefonam, brigam, divertem, escutam, ajudam, emprestam, abraçam, compartilham”.
E minha irmã, a de sangue e coração, perguntou para guardar o quê.
– Essa é uma caixinha para guardar a amizade.
4 comentários:
Só mesmo alguém tão especial como você para traduzir, tão bem, em palavras a nossa amizade.
Vou continuar rezando, brigando, aconselhando, consolando, chorando, sorrindo porque eu AMO DE GRAÇA!
Obrigada pelas palavras e, principalmente, pela AMIZADE!
"Falamos o que achamos sempre, mas sem perder o respeito." Essa é a essência, minha bela. Beijo gigante.
É muito bom ter amigos com quem nos deliciamos pela vida.
Lindas...pessoas iluminadas! seres de amor..de muito.
amo muito as duas:)
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