quinta-feira, 31 de março de 2011

Dica de livro: Adeus, China. O último bailarino de Mao – Li Cunxin



Sim, eu gosto de (auto) biografia. E esta em especial me tocou. Não porque se tornou Best-seller no mundo, mas por tratar de um assunto universal: a família. “Você vai chorar muito”, alertou a amiga. E eu me debulhei. A leitura fácil e fluente envolve e causa ansiedade de avançar as páginas, ao tempo que dá saudade só em pensar em abandonar a vida dos personagens ao chegar ao fim (sim, eu sofro de saudade a cada livro). Se vai do riso às lagrimas, da indignação ao sentimento de identificação - como se a história se passasse aqui, do lado – fácil, fácil...

Pois bem, chega de enrolação. O livro conta a história de superação de um menino - Li Cunxin - fadado a ser mais um lavrador de vida miserável na China absolutista de Mao Tsé-Tung. Uma viagem no tempo e na história oriental. Destinado aos inhames secos – principal e odiada refeição da família – o sexto de sete filhos vê a sorte mudar nos primeiros anos de escola. Absorto em observar os pássaros, em detrimento dos sacros escritos do livro vermelho de Mao, Cunxin é escolhido pelos chefes políticos a integrar a Academia de Dança de madame Mao.

Daí se desenrola inúmeros percalços e conflitos pessoais: a separação da família, a saudade consolada pela colcha feita pela niang (mãe) ou nos galhos do salgueiro-chorão, o desinteresse e nenhuma desenvoltura para os movimentos do balé. Impossível não se comover com o choque descrito entre a fartura com que se deparou na mesa da escola de Pequim (e em tantas outras ocasiões no Ocidente) e a lembrança da penúria da família, em Quingdao.

O livro revela curiosidades da cultura oriental, como costumes à mesa, o preparo da comida, a comemoração do ano novo chinês, o hábito de enfaixar os pés das meninas para que se tornem mulheres mais atraentes, apesar de comprometer a mobilidade. O primeiro capítulo descreve a cerimônia de casamento dos pais – forte e comovente. A rigidez imposta pelo regime ditatorial onde um abraço em público era infração; ser rico era motivo de condenação, tamanha a alienação do povo que acreditavam e seguiam Mao, enquanto deus.

Após se destacar na Academia de madame Mao, incitado a buscar “a polpa da manga” pelo professor Xiao, surge a proposta de um curso de verão, no Houston Balet, na “terrível e sofrida” América. Pronto. O passaporte para o estrelato no Ocidente. Nos Estados Unidos, o então líder da Juventude Comunista de Mao não resiste a tentação de comparar custos: uma malha e uma sapatilha chegam a valer meio ano de salário do dia (pai).

O choque cultural, a sensação de traição de ter sido enganado a vida toda por uma propaganda política perversa, o gosto da liberdade experimentada em solo proibido, a determinação em ser o melhor para honrar os pais, conduzem-no a deserção e anos longe da família. A fé comunista se desfaz. E surge um novo astro comum aos céus do Oriente e Ocidente: o último bailarino de Mao.

Superecomendo a leitura!!

2 comentários:

A Princesa do Castelo disse...

Aeeeeeeeeeee!! Terminou! Vou poder ler agora! Hahahha
Bjs

Teca Fernandes disse...

Também adoro (auto) biografias.
Compro várias, ficam aqui na mesa entulhadas e quando menos espero estou nos primeiros capítulos ... Largar um personagem é o ato mais traiçoeiro no mundo literário, talvez, por isso, esteja lendo 100 anos de solidão aos poucos, não quero me livrar de Macondo!
Gostei da tua crônica, despertou o interesse.
Vai pra lista. Só não sei quando irei lê-lo ... rs