domingo, 24 de outubro de 2010

Egoísta

Não ser notada como antes levantou uma ponta de egoísmo, desses que a gente se pergunta o que está acontecendo. Quinze minutos e algumas amenidades. Será que seria demais pedir outros quinze? Ou tenho pedido demais ultimamente? Não para as duas questões. Há meses tenho sentido este distanciamento. Já não nos falamos como antes. Deixei de ser sua confidente, justo quando tenho tanto a falar e nenhum ombro por perto. Queria dizer das minhas angústias, dos projetos que brotaram no ócio e receber sua penitente redenção em análises e sorrisos estrondosos. O que dói mais é este silêncio. Há de ter mais palavras entre nós. A gente cresceu junto e se conhece tanto e ele agiu sem me ver. Nem perguntou se eu precisava estar com ele. Não o culpo. Talvez seja minha carência, acentuada esses dias todos quieta, trancada, limitada a andanças mancas do quarto para sala e a pequenos passeios às sessões de fisioterapia. Talvez sejam os poucos mais de 50 quilômetros que nos separa e as raras ligações feitas nos últimos dias. Ele está sempre ocupado e eu o respeito. Outro dia sonhei com a morte e a dor era tão irremediavelmente real, como já senti um dia. Tenho vontade de abraçar por horas. Sinto a ausência do amigo. A vida é tão corrida, a gente trabalha tanto, que quando um para (mesmo forçadamente) sente necessidade do outro parar também. Pedir que me acompanhasse seria muito, eu sei. Mas não o é me levar consigo. É naquela vida que eu também quero estar. Será que ele está bem? O que se passa naquela enorme cabeça só menor que o coração? Eu não sei, se reservou. De repente me dou conta que crescemos e estamos imbuídos em nossas vidas. Cada um na sua. Em separado. Um hiato. Sinto medo de não darmos espaços para nós nelas. Quinze minutos e algumas amenidades não me são suficientes. Será que ele já se sentiu assim, quando era eu a encontrar outros ouvidos? Também fui negligente. Sou. Mas eu o amo tanto. Eu sei também que ele me ama... É que às vezes, também sou egoísta.

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