quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Trânsito, caos e silêncio


A distancia encurtava à medida que o carro avançava e o silêncio se alargava por toda avenida. Deu-se conta, pela primeira vez, do ódio que nutria pelo sincronismo dos semáforos, que insistia em dar passagem com suas luzes esmeraldas. Ansiava pelos poucos segundos do sinal na cor do pecado, na esperança que as palavras saíssem de forma a ordenar aquele caos. Mas a velocidade era constante, assim como a angústia pelo momento certo. O mp3 djavaneava alguma canção que contrastava com a rouquidão do trânsito. Sentia pressa de apertar o freio e fazer parar ali aquela confusão de sentimentos, quem sabe assim a coragem surgiria, numa trombada, fazendo sacudir as convicções e incertezas. Deixando tudo muito estilhaçado para se reconhecer um e outro. Juntar seria a questão? Dizer o quê a essa altura da via? Nenhum sinal fechou. Sentia-se em ponto morto. Olhava de vez em quando o rosto bem barbeado, os braços torneados a insinuar um toque na perna a cada mudança de marcha. Pela janela, via uma velha senhora calmamente dando partida, sem se importar com as buzinas irritadas que lhe xingavam logo atrás. Queria se juntar ao coro e praguejar algumas blasfêmias àquela nostalgia toda que a desconsertava e a fazia não saber como agir. Ensaiou algumas frases, o coração desgovernado embalou uma correria, mas ainda esperava o momento, a coragem. E finalmente, o carro parou. Olhou praquele rosto sombreado e com um beijo do lado se despediu sem nada dizer.
Quem sabe outro dia?!

4 comentários:

Anônimo disse...

É este quase o que maltrata..

Marcelo Tavares disse...

O barril de pólvora não é o problema. O problema SEMPRE é a fagulha. rs.

A Princesa do Castelo disse...

Mas o tempo é sábio... Foi só dar a pausa necessária que a fagulha apagou. O problema é que a pólvora continua lá e a fagulha de quando em vez reacende.

Tico Litlle disse...

quem sabe, outro dia?